O que foram fazer Lula e Bolsonaro no exterior

Todo mundo está falando sobre a viagem de Lula (foto) à Europa e a de Bolsonaro ao Oriente Médio. Mas sabe o que realmente foram fazer por lá, amigo leitor? Nada. Ao menos nada do que os dois contaram.

Acontece que as viagens dos políticos sempre servem a outra finalidade que não a oficial. Estas últimas, por exemplo, foram noticiadas como relevantes tours de busca por apoios estratégicos ao Brasil e de negócios.

Balela, pura balela. Vão para fora, apertam mãos, tiram fotos e contam em suas redes sociais que foram fechar contratos muito importantes, e que são muito respeitados. Que nada. Voltam como foram, com a bagagem cheia de vento. Ou de presentes.

Os negócios e eventos de que participam por lá não diferem muito daqueles a que comparecemos no último dia só para receber o certificado e impressionar o patrão. O patrão, no caso deles, somos nós. Quer dizer, nosso voto, afinal, conosco pouco ou nada se importam. Somos cidadãos objetos. Nos usam e depois nos descartam na porta da igreja.

Nas oportunidades em que os dois não estiveram a passeio, ou entre os seus, e precisaram se expor de verdade, Lula, questionado, padeceu de preocupante amnésia, um tipo raro, que só inibe a lembrança de fatos jurídicos. Esqueceu-se por completo dos motivos pelos quais foi processado e preso, lembrando-se apenas de que foi inocentado, fato que não aconteceu.

Já Bolsonaro, do púlpito, insistiu em empurrar grafeno e nióbio para os gringos, com a mesma desenvoltura científica com que Dilma ansiava por estocar vento, e com a mesma verdade com que um ambulante nos recomenda a última bugiganga que lhe restou no balaio para poder ir logo embora para casa.

Exceção foi Lula ter sido recebido com pompa por Macron. Mas tenho para mim que isso foi muito mais para alfinetar Bolsonaro do que para legitimar Lula. Afinal, Bolsonaro já é conhecido lá fora como o chato inconveniente que fala mal da mulher dos outros e que evitamos a todo custo. Os pés de Angela Merkel que o digam.

No mais, como Lula sabe que, neste país miserável, seus eleitores andam comendo sopa de ossos, apostou suas fichas em que acharíamos chic seu rendez-vous cheio de oh là là e lhe saberíamos dar o devido valor por isso.

Já Bolsonaro, o nosso Aladim sem gênio, apostou que nos distrairíamos com mil e uma noites falando com um, falando com outro, e não falando nada com nada, em meio a palácios e corredores suntuosos que aprendemos a ver nos filmes, quando ainda tínhamos dinheiro para ver filmes.

A lembrança da corrupção e da miséria parece que se dissipa de nosso olhar com os ares franceses e aquelas noites árabes. A fome se distrai com o circo. E a isso nossos políticos nos acostumaram bem.

Quando retornarem e a campanha do ano que vem iniciar para valer, abandonarão o estrangeiro e viajarão apenas pelo Brasil. Se o exterior é uma espécie de botox na imagem pública, correr por nossas terras é que lhes rende mesmo votos. Até lá, farão de conta que são personagens do mundo, viajados, edulcorando nossa realidade.

Que o façam. Quem sabe nos enganam de forma tão convincente que amanhã acordamos com um café de sultão na mesa triste da cozinha ou até mesmo, ao sermos abordados pela polícia, não ouçamos um sonoro: Bonjour, monsieur. Ça va bien? Quem sabe.

Leia o artigo em O Antagonista

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